Ao longo do século XVIII verificou-se uma série de revoltas e motins urbanos e rurais provocados pelas crises cerealíferas e pelo peso de novos impostos. Verificou-se a crescente contestação anti-senhorial nos meios rurais, com casos de recusa de pagamento de direitos considerados exorbitantes ou não justificados pelo costume. A reação dos atingidos contra tais novidades manifestou-se em protestos e numa certa organização, com prisão dos executores, ameaças de morte e de queima de casas e até a marcha de centenas de homens sobre a capital, para o apelo direto à Coroa, vista sempre como árbitro supremo. Tal foi o caso de Alenquer em 1721. Esta vila pertenceu, desde tempos muito antigos, a rainhas e infantas portuguesas, e, na primeira metade do século XVIII, era sede de uma ouvidoria que abrangia diversas povoações do senhorio da Rainha. A esta pagavam os vizinhos da terra um tributo sobre os cereais, que os rendeiros não costumavam cobrar com rigor, aceitando até fazer descontos. Tudo se complicou quando um novo contratador, acabado de entrar em funções, passou a exigir aquela prestação por inteiro. Ameaçado de morte e de lhe queimarem a casa, fugiu para a capital, enquanto cerca de 700 homens, armados de chuços e mocas, invadiam Lisboa e chegavam até ao Terreiro do Paço. Atendidos benignamente pela Rainha, a quem se queixaram do rendeiro (cuja substituição pediram), pretenderam também falar ao Rei, que os aconselhou a regressarem a suas casas, prometendo justiça.