A presença portuguesa na Costa da Guiné, antes da segunda metade do século XIX, limitava-se a uns poucos assentamentos do tipo fortaleza-feitoria, instalados em territórios de soberania indígena, sob condições que sempre envolviam um misto de negociação e conflito. Não raro os povos ou os soberanos nativos locais passavam de uma situação de consentimento, colaboração e comércio a uma acção de revolta contra os portugueses. Assim aconteceu em Bissau, em 1844, com a revolta dos papéis, o grupo étnico dominante na região, a que se juntou a sublevação dos grumetes, uma população nativa ou mestiça cristianizada que prestava serviços de apoio aos portugueses e que maioritariamente residia numa aldeia fora da praça. Tudo começou em 11.09.1844 quando o rei ou régulo de Intim foi preso depois de exigir ao recém-chegado capitão-mor de Bissau um copo de aguardente, no que entendia provavelmente ser um tributo em reconhecimento da sua autoridade; no incidente morreu também um papel. Em represália, os papéis, em coligação com os grumetes, matam e ferem várias pessoas, saqueiam casas comerciais e montam cerco à praça. A tropa e os moradores portugueses responderam com repressão armada, a destruição da aldeia dos grumetes e a construção de uma paliçada de defesa de Bissau. Contaram para isso com o apoio de navios de socorro franceses, britânicos e americanos, e com reforços de tropas enviadas de Cacheu e de Cabo Verde. Só ao fim de três meses (19.12.1844) seria assinada uma paz com os papéis, representados pelos régulos de Intim, Bandim e Antula. Mas os grumetes ficaram fora do acordo e refugiaram-se no ilhéu de Bandim, de onde continuaram a resistência. O conflito reacendeu-se em abril e agosto de 1845, de novo com a participação dos papéis, só terminando em 3 novembro com a capitulação dos grumetes.